O 7×1 ficou pequeno – Despedida do Cris Sousa “Papaléguas”

Na foto acima (final de 2018), os amigos do Futeba de Quinta 21h, de Santa Felicidade. Mais de 20 anos de muito futebol e muita amizade.

No início do ano, quando a pandemia parecia ter dado uma trégua e os decretos municipais permitiram a reabertura do comércio e a prática de esportes, decidi ir jogar futebol com os amigos de sempre, um grupo de pessoas que se conhecem e que jogam há muitos anos e que estavam sempre falando em cuidados com o coronavírus. Fazia 10 meses que eu não jogava e também não via alguns grandes amigos que, antes, via todas as semanas.

Chegando lá, foi aquela felicidade em rever alguns velhos amigos! Mesmo não podendo dar aquele abraço de costume, era muito bom estar de volta. Alguns minutos depois, chega o Cris Sousa, parceiro de trabalho, de futebol e grande amigo, com aquele seu jeito animado de ser.

Em campo, no aquecimento, ele me puxou de lado e começou a falar que estava de saída da empresa que trabalhávamos juntos. A minha primeira reação foi de tristeza, mas, depois de ouví-lo por mais tempo, entendi a razão da decisão dele e de sua família em retornar à São Paulo, de onde vieram há cerca de 3 anos. Conversamos bastante, sobre muitas coisas. O jogo já não era tão importante assim.

Na outra semana, Cris me mandou uma mensagem:
– Fala Papai, tudo bem? Como que tão as coisas? Vai jogar? Como que se tá?
Eu respondi super empolgado:
– Já me sinto lá! 
Também perguntei como estava com a mudança para São Paulo e que se este seria o seu último jogo aqui. Ele retornou que ainda estava aguardando algumas coisas, mas, que ia fazer o possível pra ir:
– Até o final da tarde te confirmo! E sim, últimos dias por aqui na real e aquele aperto no coração, mas, vamo que vamo né?! Conta comigo. Um beijo no coração. Tudo nosso!

Ainda na mensagem, me perguntou se eu ia à empresa a tarde (afinal, eu ía toda a semana). Eu respondi que sim e comentei se ele não queria ir e almoçar por lá, para fazermos uma despedida. Deu certo! Nos encontramos ao meio dia e, junto de outros colegas da empresa, fomos almoçar em um restaurante próximo.

Conversamos bastante, por mais de 1 hora. Aquele papo bacana, sobre assuntos diversos, mas, principalmente, sobre futebol e o inesquecível “7 X 1”, entre Brasil e Alemanha, na Copa de 2014, e como ele se tornou um sinônimo de algo ruim, como de projetos mal sucedidos e tragédias em geral.

No final da tarde, confirmou que iria jogar a noite e que logo chegaria por lá.

A noite, ao final do jogo, numa grande mesa em local aberto, sentamos em 5 amigos e ficamos conversando, como era de costume, exceto pelas máscaras e distanciamento. Cris falava que fora seu último jogo (seria o nosso também, pois, no outro dia, a cidade fecharia novamente com a mudança para a bandeira vermelha) e que nos próximos dias, ele e família retornariam, em definitivo, à São Paulo. Ele viria à Curitiba apenas para acompanhar a mudança final e entregar o apartamento alugado. Estava triste pelo momento, mas, contente que as coisas estavam se encaminhando e que, em breve, estariam mais próximos de suas famílias.

Antes de irmos embora, no estacionamento, nós dois ainda falamos por vários minutos e, ao final, depois de falar que era pra ele contar comigo por aqui, inclusive na ajuda com a mudança, ele me agradeceu e comentou que Curitiba havia lhe dado um grande irmão.

Alguns poucos dias se passaram e, no domingo de manhã, recebi uma mensagem do Izaias, que trabalhava com o Cris, dizendo:
– Cara, o Cris faleceu!
Eu perguntei do que ele estava falando e, alguns segundos depois, naturalmente não acreditando no que li, liguei pra ele. Em prantos, ele falava que a esposa do Cris havia ligado pra ele e falado sobre a tragédia ocorrida (afogamento), ainda sem muitos detalhes.

A tristeza, veio à tona! Me lembrei dos seus 3 filhos e da dor que eles sentiriam. Minha primeira reação, depois de falar à Paola sobre a tragédia, foi a de gravar um áudio para o grupo do futebol. Sem pensar e bastante emocionado, simplesmente falei que não sabia como contar à eles que o “Cris Papaléguas” (apelido carinhoso recebido pela sua velocidade e habilidade com a bola) havia falecido.

No grupo, que há quase 30 amigos, a emoção tomou conta. Ninguém acreditava no que ouvia e que o Cris, que estava conosco há poucos dias, havia partido. Foram centenas de mensagens, lembrando de como o Cris era um cara querido, alto astral e muito humilde:
– Pensa em um cara gente boa, que jogava mais que todos e que se portava como o mais pereba! Coração apertado e as lágrimas não param! – Dizia a mensagem de um dos amigos.

O que nos restou por aqui foi de fazer o possível para que a sua família não precisasse retornar à Curitiba. Colegas de trabalho e amigos do futebol organizaram uma vaquinha e uma força-tarefa para realizar a entrega do apartamento de Curitiba e a mudança, do que ainda estava aqui, para São Paulo. Além de oração e de pensamentos positivos, foi a maneira que encontramos de dar um pouco de conforto à família do nosso querido amigo.

Eu e o Cris, no final de 2019

Cris era um cara sensacional. Com uma energia contagiante, estava sempre de bom humor e pronto para o que desse e viesse. No trabalho, era um grande parceiro, uma referência. Dedicado, antenado, focado e equilibrado. Fora dele, era o primeiro a pedir a rodada de cerveja e de celebrar. Um cara de bem com a vida. Que amava sua família mais que tudo. Que priorizava o que era realmente importante.

O 7x 1 ficou pequeno para aqueles que tiveram a oportunidade de ser seu amigo. Cris, infelizmente, encontrou muito cedo com aquela que, um dia, todos encontraremos sem saber o momento exato e que, ainda, nunca estaremos prontos para compreendê-la. Cris não está mais entre nós e, o que nos resta agora, é de lembrar dele com carinho e de sempre torcer por sua família, que precisarão ser muito fortes e seguir a vida, sem o pai.

Cris, nunca esqueceremos de você. Vai com Deus e em paz, meu irmão!


Esse não é um texto para falarmos do coronavírus ou do fato de termos jogado futebol no início do ano, mas, de lembrar, com carinho, de um grande amigo que faleceu (numa tragédia quase que inexplicável) e que jamais esqueceremos.

*Link da matéria sobre o falecimento do Cris Sousa.