O que eu aprendi com a trágica morte de um dos melhores jornalistas do país, Ricardo Eugênio Boechat.
A garagem da minha casa sempre foi uma oficina de serviços gerais. Meu pai, mecânico industrial e um talentoso marceneiro, tinha (e ainda tem), todas as ferramentas que precisava para trabalhar com seus moinhos e qualquer outra coisa que o seu trabalho exigisse que ele inventasse ou consertasse. Junto de meu irmão, que por muito tempo trabalhou com ele, iniciavam o dia cedo, junto de uma garrafa de café, uma de água gelada (paixão do meu irmão que sempre dizia que água na temperatura natural não mata a sede) e o rádio, sintonizado na BandNewsFM de Curitiba. Para onde eles iam esse kit de sobrevivência ia junto.
Em 2010, quando meu apartamento ficou pronto, nós três fomos para lá e passamos alguns dias lixando paredes, dando um trato nas portas e instalando luminárias. Conosco, é claro, estavam as garrafas de água e café e o rádio, comandado pelo Ricardo Boechat. Lembro que discutíamos os temas abordados no programa e também comentávamos sobre quão dedicado e trabalhador era o Boechat, que além de apresentar o jornal da noite na BandTV, estava todo dia às 7 horas da manhã na rádio BandNews.
O cara apresentava um jornal à noite na TV, para todo o Brasil, e bem cedo, já estava fazendo seus comentários na rádio.
“Minha nossa!”, pensava eu. O cara é famoso, bem sucedido e batalhador, ou seja, sinônimo de que o trabalho duro e honesto não é realidade apenas para nós, meros mortais, que passamos a semana inteira trabalhando, esperando ansiosamente pelo final de semana.
Aí eu pensava: “tá, mas ele não deve fazer nada o dia todo, assim como esses apresentadores de TV que você só vê em um dia da semana”. Eu deixava este pensamento de lado assim que ouvia aos seus comentários. O cara falava por horas. Expressava o que muitos de nós pensávamos com ótimas palavras e pensamentos muito bem elaborados, todo dia. E, detalhe, ele não lia nenhum texto pré-escrito não. O cara, além de muito inteligente, tinha o dom para falar e de se conectar com seus ouvintes. O cara era foda!
O tempo foi passando e o Ricardo Boechat, o Eduardo Barão, a Tatiana Vasconcelos (que depois foi para a CBN, dando o posto a Carla Bigatto) e mais uma dezena de comentaristas da BandNews, eram meus colegas diários. Eu conhecia a voz de cada um. Prestava atenção, concordava, discordava e discutia os assuntos com a minha “doce Paola” no caminho do trabalho.
Como eu gostava de ouvir ele e o Jose Simão (Rosséééééé Simããããããão, excelência) falando babozeiras (a Paola odiava e eu me divertia ainda mais). Gostava até de sua conversa com o Milton Neves, que eu sempre achei muito chato. Era bom ouví-los! Era aquele papo de família reunida no domingo, com piadas de tiozão e aquele sentimento de ódio e amor, ao mesmo tempo.
Mas, por que eu resolvi escrever sobre um cara que eu nem conheço?
Há tempos eu pensava que o Boechat era um dos pilares da Bandeirantes. Que se um dia ele fosse para outra emissora ou resolvesse se aposentar, a rádio e TV não seriam as mesmas. Ninguém estaria à sua altura. Ninguém poderia substituí-lo.
Infelizmente, não aconteceu nada do que eu citei acima, aconteceu o pior. Ele se acidentou e faleceu. E agora? O que será da Bandeirantes? Quem irá substituí-lo? A verdade é que ninguém irá substituí-lo! Boechat era único.
“Daniel, pára com isso. Ninguém é insubstituível”.
Quem nunca ouviu essa frase?
Eu concordo com isso quando você pensa num cargo, mas, quando você pensa em uma pessoa, em um pai, em um filho, um irmão, um amigo, nas suas qualidades, características e até em seus defeitos, você tem certeza que ninguém é substituível.
Não há substituto para estes casos. Mas, como o mundo não pára, somos obrigados a ser fortes e “continuar tocando o barco”, como dizia o Boechat.
O fato é que resolvi escrever este texto por que a morte do Boechat me entristeceu e me fez refletir um pouco sobre a vida, sobre como amo minha família, meus pais, meus irmãos e meus grandes amigos.
E, além disso, quem me conhece sabe que eu sou uma pessoa que faz acontecer e que admira pessoas que se esforçam, que trabalham duro, que não reclamam de tudo, que levam uma vida simples e que ama aquilo que realmente é importante. O Ricardo Boechat era um cara que me servia de exemplo. Ele levava uma vida simples. Contava seus segredos, seus erros e não tinha medo de expressar sua opinião, geralmente muito imparcial e sintonizada com a opinião do povo.
Boechat era incansável, incomparável e insubstituível.