Ele cria táticas, jogadas e precisa incentivar o time, mas, não é ele quem faz o gol!
Mesmo que você não goste muito de futebol, já deve ter ouvido que os times brasileiros são famosos por trocarem seus treinadores com frequência. Se o time não está indo bem, se perdeu alguns jogos em sequência ou deixou de ganhar aquele título tão esperado pelo clube e pela sua torcida, pronto, o treinador é demitido! Não importa se ele já ganhou títulos importantes em temporadas passadas ou em outros times que treinou, a torcida pede sua saída ou a diretoria manda-o embora antes mesmo que isso aconteça. Esta prática é bastante questionada e muitos são os que concordam que não adianta simplesmente trocar um técnico por outro. É fato que para se fazer um bom trabalho ou desenvolver um projeto de sucesso, é preciso planejamento, ou seja, é preciso tempo.
Dos times que torço (sim, eu torço para mais de um time de futebol), o Corinthians foi um exemplo disso quando manteve o técnico Tite no comando do time por cerca de 6 anos (2010 a 2016, quando foi para a Seleção Brasileira), período este que rendeu muitos títulos importantes ao clube, como o Campeonato Brasileiro (2011 e 2015), a Libertadores da América (2012) e o Mundial de Clubes (2012).
Quando um treinador assume um clube, ele precisa definir estratégias, montar jogadas ensaiadas e um esquema tático que leve o time às vitórias. Mas para que isso seja possível, ele precisa conhecer muito bem cada um dos seus atletas. Em qual posição ele joga melhor, quais são as suas características de jogo, como é o seu potencial físico, seus pontos fortes, seus pontos fracos e, até mesmo, seu comportamento. Com isso em mãos ele poderá seguir com um esquema tático ou então sugerir à diretoria a contratação de novos jogadores para corrigir as deficiências do time.
No mundo corporativo não é diferente. Um líder precisa montar uma estratégia para que os resultados esperados pela empresa sejam atingidos. E, como um treinador, ele precisa conhecer bem sua equipe. Quais são as qualidades e os pontos fracos de cada um, quem pode assumir as tarefas mais complexas, quem precisa ser desenvolvido e, até mesmo, quem precisa ser substituído ou desligado. Também precisa estar atento as entregas e performance de sua equipe a cada jogo (fases de um projeto ou KPIs, por exemplo), fazendo os ajustes necessários para que o objetivo principal, como um campeonato, seja atingido. E se um jogador importante levar um cartão vermelho e ficar fora dos próximos jogos? E, não somente isso, um líder, assim como um treinador, precisa estar preparado para as saídas repentinas de membros da equipe, como aqueles que recebem propostas tentadoras de outras empresas (ou clubes, no caso de jogadores de futebol).
Não é uma tarefa fácil. Longe disso. É uma tarefa bem complexa! Não tem nenhum atalho ou fórmula mágica.
Liderar é aprender todos os dias: em cada decisão tomada, em cada problema resolvido, em cada conflito enfrentado e, claro, em cada erro cometido.
Na comparação com os gramados, a vantagem é que um líder corporativo pode (e deve) fazer parte da equipe e, assim, participar mais, incentivar mais de perto e ajustar pequenos erros antes de levar um gol ou de errar um pênalti. Dessa maneira, fica mais fácil para o líder construir e gerenciar um time forte e competitivo, pronto para resolver os desafios do dia a dia, os imprevistos tradicionais e aqueles novos projetos que a companhia encara para crescer cada vez mais.
Muricy Ramalho, técnico tetracampeão brasileiro pelo São Paulo e Fluminense, certa vez disse:
Dois caras bons podem jogar juntos sempre. O que não pode é jogar dois caras ruins. Acabou esse negócio no futebol de pegar a bola e dar para o Zico (resolver). Futebol é conjunto.
A afirmação encaixa muito bem no ambiente corporativo. Se você tem um time de bons profissionais, os resultados virão com mais facilidade. Agora, se você tem jogadores que não estão cumprindo bem o seu papel, o craque do time ficará sobrecarregado e sob pressão, deixando de produzir o que ele realmente poderia. Por isso, é importante acertar na contratação e priorizar o acompanhamento e desenvolvimento do time. Seus craques podem estar em outras empresas, mas, olhar para a base do próprio clube e investir no desenvolvimento de novos talentos pode ser uma excelente saída.
No Athletico Paranaense, o grande time do meu coração, o técnico anterior, Tiago Nunes, é um exemplo que a solução pode estar dentro da própria empresa. Ele treinou os times juvenis do Athletico por 2 anos. Quando surgiu a oportunidade de assumir o time principal, mostrou tudo que havia aprendido e provou seu potencial dando ao clube o Campeonato Paranaense (2018), o título internacional da Copa Sul-Americana (2018) e a Copa do Brasil (2019).
O que realmente transforma um gestor (ou um técnico) em um grande líder é a busca constante pelo seu desenvolvimento e a habilidade em gerenciar e motivar sua equipe, atributos fundamentais nessa área de gestão de pessoas.
*Com informações de: Universidade do Futebol – A diferenca entre lideres atletas e tecnicos lideres; Administradores – A liderança pode ser desenvolvida.
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A ideia deste texto veio no final de 2018, mas, ficou nos rascunhos e só fui concluí-lo em 2020, durante a pandemia do Coronavírus, que fez até as Olimpíadas serem adiadas.